O abuso psicológico é uma forma de violência silenciosa que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge milhões de mulheres em todo o mundo. Apesar de não deixar marcas físicas, as consequências emocionais podem ser devastadoras, impactando a autoestima, a saúde mental e a capacidade de estabelecer relacionamentos saudáveis.
Em entrevista exclusiva, o psicoterapeuta Luti Christóforo, especialista em saúde mental e violência de gênero, explica como identificar sinais de abuso e quais caminhos buscar para sair dessa situação.
O que é abuso psicológico?
De acordo com a OMS, o abuso psicológico consiste em comportamentos repetitivos de manipulação, humilhação e controle, que têm o objetivo de minar a identidade e a autoconfiança da vítima. Esses comportamentos podem incluir:
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Isolamento: afastar a vítima de amigos e familiares;
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Desvalorização: ridicularizar, insultar ou menosprezar sentimentos e opiniões;
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Controle financeiro: reter recursos ou criar dependência econômica;
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Ameaças: fazer chantagens emocionais ou prometer consequências negativas caso a vítima não se submeta.
“O abuso psicológico é muitas vezes difícil de detectar, tanto para quem o sofre quanto para as pessoas ao redor, pois não deixa marcas visíveis. As cicatrizes são internas e podem evoluir para depressão, ansiedade e até pensamentos suicidas.” — Luti Christóforo
Sinais de alerta
Conforme explica o psicólogo, algumas atitudes podem indicar que você ou alguém próximo esteja passando por abuso psicológico:
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Sentimento constante de culpa ou obrigação A vítima sente-se culpada por tudo que acontece de errado no relacionamento e acredita que deve se responsabilizar pelas emoções e comportamentos do parceiro abusivo.
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Medo de expressar opiniões ou desejos A pessoa evita dar opiniões ou falar sobre o que pensa por temer reações negativas, críticas agressivas ou punições emocionais.
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Baixa autoestima crescente Com o tempo, comentários depreciativos e manipulação constante fazem a vítima acreditar que “não é boa o suficiente” ou “não merece coisa melhor.”
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Dependência emocional O agressor cria uma dinâmica de incerteza e instabilidade que leva a vítima a acreditar que só pode contar com ele, aprofundando o ciclo de abuso.
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Mudança drástica de comportamento A pessoa passa a se isolar, recusa convites de amigos e familiares, aparenta tristeza ou irritabilidade constantes e evita falar sobre a relação.
Por que o abuso psicológico é tão comum entre mulheres?
De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), grande parte dos casos de violência contra a mulher inclui elementos de abuso psicológico. A pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” revelou que 37,5% das mulheres brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses, o que representa cerca de 21,4 milhões de mulheres com 16 anos ou mais. Entre os tipos de violência, 31,4% relataram ter sofrido insultos, humilhações ou xingamentos, evidenciando a prevalência do abuso psicológico.
Luti Christóforo explica que fatores culturais, sociais e históricos contribuem para a normalização de comportamentos abusivos:
“Há uma construção social que reforça a submissão feminina e a dominação masculina, o que facilita o surgimento de relacionamentos tóxicos. Muitas mulheres demoram a reconhecer o abuso porque, para elas, certas atitudes já foram naturalizadas como ‘ciúme normal’ ou ‘preocupação legítima do parceiro’.”
Como sair desse tipo de situação?
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Rompa o silêncio Buscar ajuda de pessoas de confiança, amigos, familiares ou grupos de apoio é o primeiro passo para interromper o ciclo de violência.
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Procure aconselhamento profissional A psicoterapia pode ajudar a vítima a resgatar a autoestima e traçar um plano de ação para superar a dependência emocional.
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Denuncie No Brasil, o número 180 é o canal de denúncia de violência contra a mulher, oferecendo orientações e encaminhamentos. Em casos de risco imediato, ligue para o 190 (Polícia Militar).
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Fortaleça redes de apoio Conversar com outras mulheres, participar de grupos comunitários e ONGs ligadas à proteção feminina pode ajudar a vítima a perceber que não está sozinha.